O Sermão da Montanha é um dos discursos mais emblemáticos de Jesus Cristo e apresenta princípios fundamentais para a vida cristã. Dentre esses princípios, o ensino sobre o julgamento do próximo é de extrema relevância. Em Mateus 7:1-6, Jesus é enfático ao falar aos seus ouvintes para evitar o julgamento precipitado e hipócrita, chamando à responsabilidade pessoal antes de apontar as falhas dos outros. Este ensinamento também aparece em Lucas 6:37-42 e ecoa em várias passagens das Escrituras. São eles:
1. "Não julguem, para que vocês não sejam julgados" (Mateus 7:1)
Jesus inicia sua instrução com uma advertência clara: aqueles que julgam serão julgados com a mesma medida. Esta declaração não significa que não devemos discernir entre o certo e o errado, mas que devemos evitar um julgamento severo, condenatório e sem misericórdia. Deus é o único juiz justo e conhece os corações (Romanos 2:1-3). A atitude de julgar sem compaixão revela um coração endurecido, distante da graça de Deus.
2. A Medida do Julgamento
"Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem também será usada para medir vocês" (Mateus 7:2). Aqui, Jesus ensina um princípio de reciprocidade divina: nossa maneira de tratar os outros influenciará como seremos tratados. Isso se alinha com a advertência de Tiago 2:13: "Porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo!". Assim, Jesus nos lembra que seremos tratados segundo nossos próprios padrões, e isso deve nos levar a agir com compaixão.
3. A Hipocrisia do Julgamento: O Cisco e a Viga
Jesus usa uma ilustração poderosa para demonstrar a hipocrisia do julgamento: "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?" (Mateus 7:3).
O "cisco" simboliza pequenos defeitos ou erros nos outros, enquanto a "viga" representa grandes falhas pessoais que ignoramos. Muitas vezes, somos rápidos para criticar os outros, mas lentos para reconhecer nossas próprias falhas. Jesus nos chama à autoavaliação e à necessidade de corrigirmos nossas próprias falhas antes de tentar corrigir os outros (Romanos 14:10-13). Somente quando enfrentamos nossas próprias imperfeições podemos ajudar os outros com humildade e amor.
4. A Santidade e o Discernimento: "Não deem o que é sagrado aos cães"
Jesus também adverte contra compartilhar verdades espirituais com aqueles que as desprezam: "Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos" (Mateus 7:6). Essa advertência equilibra a exortação contra o julgamento imprudente, destacando a necessidade do discernimento. Devemos amar e ensinar, mas também reconhecer quando nossos esforços são fúteis (Provérbios 9:7-8). O evangelho deve ser compartilhado com todos, mas precisamos de discernimento para saber onde nosso esforço será frutífero.
5. A Chamada à Misericórdia e ao Perdão
Jesus não apenas condena o julgamento hipócrita, mas também nos convida à misericórdia. Em Lucas 6:37, ele diz: "Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados." O verdadeiro seguidor de Cristo pratica o amor e o perdão, refletindo o caráter de Deus (Efésios 4:32). A misericórdia de Deus deve nos inspirar a sermos misericordiosos com os outros, pois fomos perdoados em Cristo (Colossenses 3:13).
Além disso, Jesus nos ensina a lidar com os erros dos outros através do espírito de mansidão. Em Gálatas 6:1, Paulo instrui: "Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado". Corrigir o próximo deve ser um ato de amor e restauração, nunca de condenação.
6. O Exemplo de Jesus na Prática da Misericórdia
Jesus é o maior exemplo de alguém que, mesmo sendo o único sem pecado, não condenava precipitadamente. Quando trouxeram a mulher adúltera para ser apedrejada, Jesus respondeu aos acusadores: "Aquele que dentre vocês estiver sem pecado seja o primeiro a atirar pedra nela" (João 8:7). Essa atitude não apenas desmascarou a hipocrisia dos fariseus, mas também demonstrou a graça divina. Ele ofereceu à mulher a oportunidade de arrependimento e mudança de vida.
Conclusão
O ensinamento de Jesus sobre o julgamento não significa uma proibição absoluta do discernimento moral, mas uma condenação do julgamento arrogante e sem amor. Devemos examinar a nós mesmos antes de apontar os erros alheios, praticar a misericórdia e buscar a verdadeira justiça com humildade. Como Paulo nos lembra em Gálatas 6:1, devemos corrigir uns aos outros com espírito de mansidão, conscientes de nossas próprias fraquezas.
Que possamos refletir a graça e a verdade de Cristo em todas as nossas interações, lembrando sempre que "Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia" (Mateus 5:7). A verdadeira justiça está enraizada no amor, na humildade e no desejo genuíno de edificar os outros no caminho da retidão.
https://youtu.be/5gvubnHg8CE?si=HwO6n0d-c5dDzOfs