“O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem dos lábios do Senhor.”
— Provérbios 16:1 (NVI)
Vivemos na era da informação abundante. Respostas estão a um clique de distância. Inteligências artificiais, motores de busca e bancos de dados oferecem soluções para quase qualquer pergunta imaginável. Mas, paradoxalmente, a humanidade ainda tropeça diante de seus maiores desafios existenciais, sociais e estratégicos. O que está faltando? O problema talvez não seja a resposta. O verdadeiro gargalo está na formulação da pergunta certa.
Na tradição filosófica, Sócrates já havia nos ensinado que não é a resposta que ilumina, mas a pergunta que provoca. Seu método — a maiêutica — baseava-se em fazer perguntas tão precisas que levavam o interlocutor a dar à luz a própria verdade, revelando contradições, falsas crenças e zonas cegas do pensamento.
Na gestão contemporânea, Peter Drucker, pai da administração moderna, afirmou que “a resposta certa é irrelevante se a pergunta estiver errada.” Muitos líderes buscam por soluções tecnológicas, estratégias de vendas ou modelos de inovação, mas não investem o mesmo esforço em compreender profundamente o problema.
E no mundo das startups, o framework Jobs to Be Done ensina que é preciso perguntar: “O que realmente o cliente está tentando realizar?”, em vez de apenas buscar maneiras de vender mais um produto.
"A verdade profunda é que boas perguntas são lanternas. Respostas podem ser atalhos. Mas sem a lanterna, o atalho leva ao lugar errado."
Estamos inundados por respostas. A inteligência artificial, como o próprio ChatGPT, é capaz de elaborar relatórios, resumos, artigos e até diagnósticos. Mas a pergunta “O que eu realmente quero saber?” ou “Qual é o problema real que preciso resolver?” ainda é uma arte humana.
A ciência é movida por perguntas, não por respostas. Einstein disse certa vez:
“Se eu tivesse uma hora para resolver um problema, passaria 55 minutos pensando na pergunta e 5 minutos na solução.”
A qualidade da pergunta molda o alcance da descoberta.
As Escrituras trazem inúmeros momentos em que perguntas moldam destinos. Jesus, o Mestre dos mestres, muitas vezes respondia com perguntas, não por evasiva, mas para levar as pessoas a pensar, refletir e confrontar a si mesmas:
Essas perguntas não eram triviais. Eram convites à transformação, revelações de intenção, fé e identidade.
Na sabedoria dos Provérbios, lemos:
“Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem-sucedidos quando há muitos conselheiros.” (Provérbios 15:22)
— o que implica que devemos buscar não só quem responde, mas quem nos ajuda a perguntar melhor.
4. Na espiritualidade
Você pode treinar a habilidade de perguntar bem com alguns métodos:
💡 Dica prática: Em reuniões, troque “O que faremos?” por “Qual pergunta ainda não fizemos?”
Num mundo onde a tecnologia responde quase tudo, a inteligência verdadeira está em saber o que perguntar.
Jesus disse: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta.” (Mateus 7:7)
Mas Ele não prometeu que daria tudo de imediato. Há um processo. A busca começa com a formulação de uma pergunta sincera, aberta e alinhada com a verdade.
As respostas podem até vir com o tempo, mas elas apenas farão sentido se a pergunta tiver sido bem feita.
Pare de buscar apenas respostas. Aprenda a fazer as perguntas certas.
Em sua liderança, fé, decisões estratégicas ou jornada pessoal, talvez a chave não esteja em saber mais… mas em perguntar melhor.
Comece agora: Qual é a pergunta mais importante que você precisa fazer hoje?
Os tempos atuais indicam uma era de rupturas internas, onde muitos buscam sentido em meio ao excesso de informação, às pressões do trabalho e ao culto à produtividade. Mas o que realmente sustenta uma vida significativa e frutífera? Este artigo explora quatro pilares fundamentais e interdependentes: Fé em Deus, Conhecimento, Trabalho e Disciplina – valores que, quando integrados, moldam o ser humano em sua plenitude espiritual, intelectual, emocional e social.
A fé é o fundamento da existência cristã (Hebreus 11:1) e a âncora da alma (Hebreus 6:19). No Sermão do Monte, Jesus declara: "Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus" (Mateus 5:3). Aqui, Ele revela que o verdadeiro acesso à sabedoria e ao Reino começa pela humildade espiritual – o reconhecimento da nossa total dependência de Deus.
Para o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, a fé é um “salto no absurdo”, um ato radical de confiança mesmo diante da razão limitada. Já o teólogo Paul Tillich define a fé como "a preocupação última do ser humano", aquilo que dá sentido a todas as outras dimensões da vida.
A fé não nos isenta da razão. Pelo contrário, Santo Agostinho ensinava: “Crê para compreender, compreende para crer melhor.” Ou seja, a fé saudável desperta a busca pelo conhecimento.
Deus criou o ser humano à Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26), dotando-o de inteligência, criatividade e capacidade de aprender. Quando buscamos o conhecimento, honramos essa imagem divina.
Salomão, símbolo da sabedoria bíblica, ensina: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento” (Provérbios 1:7). Este versículo expressa a interconexão entre fé e saber. Não se trata de um conhecimento meramente técnico, mas de uma sabedoria que transforma o caráter e orienta as decisões.
Do ponto de vista psicológico, Carl Jung afirmou que "quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta". O autoconhecimento, assim como o conhecimento de Deus, são partes complementares de uma jornada integral.
Já o sociólogo Pierre Bourdieu lembra que “o conhecimento é poder simbólico”, e portanto, instrumento de transformação social – quando aliado a princípios éticos.
Desde o princípio, o trabalho foi instituído por Deus como parte da dignidade humana: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cultivá-lo e cuidar dele” (Gênesis 2:15). Trabalhar não é castigo, mas cooperação com o Criador na ordenação do mundo.
Jesus valorizou o labor honesto ao dizer: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (João 5:17). O apóstolo Paulo exortava: “Quem não quer trabalhar, também não coma” (2 Tessalonicenses 3:10). Isso aponta para uma teologia do trabalho que rejeita tanto a preguiça quanto o ativismo vazio.
Segundo o psicólogo Viktor Frankl, o trabalho é uma das três fontes do sentido da vida – ao lado do amor e do sofrimento. Trabalhar com propósito nos insere em algo maior do que nós mesmos.
O filósofo Immanuel Kant afirmava: “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade.” Contudo, é a motivação por trás do trabalho – e não apenas o esforço – que define seu valor espiritual.
A disciplina é a ponte entre o propósito e a realização. Salomão afirmou: “Quem não aceita a disciplina se mostra tolo, mas quem dá ouvidos à repreensão obtém entendimento” (Provérbios 15:32).
No Sermão do Monte, Jesus ensina sobre a importância da coerência de vida: “Seja o seu ‘sim’, sim, e o seu ‘não’, não” (Mateus 5:37). A integridade e a consistência interior são frutos de disciplina espiritual e moral.
O psicólogo Jordan Peterson enfatiza que a disciplina é libertadora, pois organiza o caos da existência. Ele afirma: “A liberdade não está em fazer o que se quer, mas em escolher o que é certo apesar do que se quer.”
Da perspectiva sociológica, Max Weber demonstrou em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo que a autodisciplina moldada pela fé foi o motor de uma ética de trabalho produtiva, responsável e moral.
Fé, conhecimento, trabalho e disciplina não são esferas separadas da vida, mas engrenagens de um mesmo organismo. Quando unidas, essas virtudes nos conduzem a uma existência plena, onde o espiritual fortalece o racional, o esforço é guiado pelo propósito, e a disciplina nos capacita a perseverar no caminho da verdade.
Jesus nos convida a viver com propósito, não por performance. A plenitude vem da fidelidade, não da fama.
Pergunta reflexiva: Diante desses quatro pilares, qual deles você precisa fortalecer hoje para caminhar com mais verdade, sabedoria e propósito?
Este artigo explora o fenômeno da habituação, quando deixamos de perceber o que é familiar — e propõe um despertar da atenção para o essencial. Com base na Bíblia, filosofia e psicologia, convida à redescoberta da presença, do afeto e do sentido profundo da vida.
"O Poder de Notar o Que Sempre Esteve Diante de Nós". Em outras palavras: “Olhe novamente o poder de notar o que sempre esteve lá. ”Essas frases, simples e provocativas, nos convidam a um exercício de reconexão com a realidade, com o divino e com o nosso interior. Estamos cercados por estímulos, imagens, sons, pessoas e ideias. Mas, ironicamente, quanto mais nos expomos ao mundo, menos o percebemos. A isso damos o nome de habituação: um processo neuropsicológico em que deixamos de prestar atenção àquilo que se torna comum ou repetitivo. Assim, perdemos a sensibilidade ao cotidiano e nos afastamos da beleza das pequenas coisas, dos detalhes significativos e — muitas vezes — daquilo que é mais essencial à vida.
Essa tendência humana nos leva a viver no piloto automático, sem realmente estarmos presentes. “Olhe novamente o poder de notar o que sempre esteve lá” é um convite à atenção desperta, à redescoberta da presença e à reintegração da alma com o real. Neste artigo, exploramos o fenômeno da habituação à luz da Bíblia, da filosofia, da psicologia e das ciências sociais, buscando compreender como ela afeta nossa percepção, nossos relacionamentos e nossa espiritualidade — e, sobretudo, como podemos despertar novamente para o que importa.
A habituação é um processo de adaptação neural e psicológica. Ao sermos expostos repetidamente a um estímulo, nosso cérebro passa a ignorá-lo para preservar energia e priorizar o que é novo ou potencialmente ameaçador. Embora útil do ponto de vista evolutivo, esse mecanismo tem um custo existencial: deixamos de perceber aquilo que se torna rotineiro — mesmo que seja vital.
O psicólogo William James já alertava no final do século XIX: “A atenção é a posse pela mente, de forma clara e vívida, de um dentre vários objetos ou pensamentos possíveis. […] Ela implica retirada de algumas coisas para lidar efetivamente com outras”. A atenção é limitada; e a falta de renovação perceptiva faz com que o mundo à nossa volta desapareça aos poucos de nossa consciência.
É por isso que, muitas vezes, deixamos de ver a beleza de um pôr do sol, de valorizar um abraço, ou de perceber a presença de Deus na rotina.
A Bíblia fala diversas vezes sobre o perigo de “endurecer o coração” — uma metáfora para a insensibilidade espiritual, emocional e moral causada pela repetição do pecado ou pelo descuido com a presença de Deus.
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Salmos 95:7-8, NVI).
O texto sugere que a voz de Deus está sempre presente, mas nem sempre a percebemos. E essa surdez espiritual muitas vezes é causada pela habituação à graça, à bondade, aos sinais sutis do Eterno no ordinário. Deus, que se manifesta no “vento suave” (1 Reis 19:12), pode passar despercebido por corações acostumados apenas ao estrondo.
Jesus também advertia para a cegueira dos que, mesmo vendo, não enxergavam:
“Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis?” (Marcos 8:18).
O filósofo Martin Heidegger, ao falar sobre a existência autêntica, introduz a ideia de que o ser humano vive na maior parte do tempo em um estado de esquecimento do ser. Estamos absorvidos pela cotidianidade, pelos afazeres, pelas distrações, e deixamos de refletir sobre o que realmente somos e o sentido da vida. É preciso um choque — ou uma escolha deliberada — para voltar a “habitar poeticamente o mundo”, como dizia Hölderlin.
Simone Weil, filósofa e mística cristã, via na atenção o maior gesto de amor e de abertura ao divino. “A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade.” Para ela, ver o outro de verdade, ver o mundo de verdade, é um ato de santidade. E isso exige vencer a habituação.
A neurociência mostra que o cérebro é uma máquina de economia. O sistema de ativação reticular filtra os estímulos sensoriais para não nos sobrecarregar. Assim, coisas que antes nos fascinavam passam despercebidas — inclusive pessoas.
O psicólogo Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, distinguiu dois modos de funcionamento mental: o Sistema 1 (rápido, automático, intuitivo) e o Sistema 2 (lento, deliberado, racional). A habituação ocorre no Sistema 1. Para sair dela, precisamos acionar o Sistema 2: interromper o automático e trazer à consciência aquilo que se tornou invisível por excesso de familiaridade.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) também trabalha com o conceito de reestruturação cognitiva, ajudando o indivíduo a perceber padrões automáticos de pensamento e comportamento que foram naturalizados, mas que talvez estejam impedindo a felicidade, o afeto e o crescimento pessoal.
O sociólogo Zygmunt Bauman dizia que vivemos em uma “modernidade líquida”, marcada pela volatilidade, pela aceleração e pelo esquecimento. Nessa cultura, tudo é tão rápido e superficial que perdemos a capacidade de prestar atenção profunda nas coisas. O resultado é uma sociedade distraída, insatisfeita e ansiosa.
Pierre Bourdieu alertava para o “habitus”: padrões inconscientes que internalizamos pela repetição cultural. Eles moldam nossa percepção sem que percebamos. Assim, podemos estar presos a uma estrutura social e simbólica que nos impede de “ver de novo”.
Para romper com a habituação e recuperar a sensibilidade, algumas práticas são poderosas:
Ver novamente é um ato de amor. A habituação é uma forma sutil de morte do espírito — a anestesia da alma diante da vida. Redescobrir o que sempre esteve lá é renascer. É abrir os olhos não apenas para fora, mas para dentro e para o alto.
O chamado de Deus, da filosofia, da psicologia e da arte é o mesmo: “Acorda, tu que dormes” (Efésios 5:14).
Voltar a ver é voltar a viver.
Chamadas finais para reflexão e partilha:
Vivemos em uma era marcada por discursos motivacionais que pregam: “Espere o melhor”, “Nunca se contente com pouco” e “Você pode tudo”. Redes sociais, publicidade, ambientes corporativos e até algumas pregações religiosas reforçam que, se sonharmos grande o suficiente, nada será impossível. Mas, paradoxalmente, quanto maiores nossas expectativas, maior parece ser nosso risco de frustração, ansiedade e infelicidade.
Por que isso acontece? Estariam Jesus, os filósofos clássicos, psicólogos contemporâneos e sociólogos corretos ao apontarem que expectativas elevadas, em vez de impulsionarem a vida, podem sufocar nossa alegria?
Este artigo explora a idéia de que “Altas expectativas são inimigas da felicidade” em uma análise profunda que integra sabedoria bíblica, filosofia, psicologia, sociologia e exemplos práticos da vida pessoal, profissional e espiritual.
No Sermão do Monte, Jesus revela o caminho inverso à lógica da expectativa ilimitada:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.” (Mateus 5:3)
Essa bem-aventurança indica que a verdadeira felicidade nasce não de expectativas elevadas sobre si ou sobre o mundo, mas de humildade, confiança e gratidão.
O filósofo estoico Epicteto ensina:
“Não são as coisas que nos perturbam, mas nossos julgamentos sobre elas.”
Ou seja, não é o evento em si que gera sofrimento, mas nossas interpretações e expectativas irreais sobre ele. Este conceito é ecoado pela filosofia budista, no princípio do Dukkha, segundo o qual o sofrimento humano nasce do desejo insaciável. Buda ensinou:
“A paz vem de dentro. Não a procure fora.”
Jesus confirma essa sabedoria espiritual ao dizer:
“Não andem ansiosos quanto ao que comer ou vestir, pois o Pai sabe que vocês precisam de todas essas coisas.” (Mateus 6:25-32)
Epicuro (341-270 a.C.) afirmava:
“Se queres tornar alguém feliz, não acrescente à sua riqueza, mas diminua os seus desejos.”
Para ele, a felicidade reside no prazer moderado e na eliminação do sofrimento desnecessário. Diminuir expectativas, portanto, é mais eficaz do que acumular conquistas.
Schopenhauer reforça:
“A felicidade é apenas a ausência de dor.”
E alerta que o desejo cria uma lacuna entre o que se quer e o que se tem, alimentando sofrimento.
Já Immanuel Kant via a felicidade como um conceito indefinido, incapaz de servir como princípio para a ação ética. Para ele, a vida moral deve se basear no dever racional, não em expectativas de felicidade.
Friedrich Nietzsche, em “Humano, Demasiado Humano”, escreveu:
“A expectativa é a raiz de todo sofrimento.”
Por outro lado, Nietzsche propôs o conceito do Übermensch (“além-do-homem”), incentivando a superação constante. Porém, morreu debilitado mentalmente, possivelmente exaurido pelas próprias exigências internas, ilustrando o risco de uma vida sem consciência de limites.
Aaron T. Beck, pai da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), explica que expectativas irreais geram distorções cognitivas como:
Por exemplo, pais que esperam filhos perfeitos acabam intoxicando os vínculos familiares com cobranças silenciosas e decepções constantes.
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e sobrevivente do Holocausto, afirmou:
“Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.”
Ele mostrou que criar expectativas irreais gera frustração existencial, enquanto substituir expectativas pela busca de sentido produz satisfação duradoura.
Na Psicologia Positiva, Martin Seligman descobriu que felicidade sustentável está ligada a três dimensões:
Expectativas irreais focam no prazer imediato e ignoram engajamento e propósito, o que reduz a felicidade.
Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, demonstrou que expectativas criam vieses cognitivos como o viés do contraste: avaliamos negativamente algo bom se esperávamos algo ainda melhor. Por exemplo, um aumento salarial de 20% pode ser frustrante se esperávamos 30%.
Zygmunt Bauman definiu nossa época como “modernidade líquida”, caracterizada por relações, carreiras e projetos efêmeros. Em “Vida Líquida”, afirma:
“Vivemos tempos de amores líquidos, carreiras líquidas, amizades líquidas. Tudo se dissolve, mas nossas expectativas permanecem sólidas.”
Esse descompasso gera a “angústia da insuficiência”, sensação de que nunca somos bons ou completos o bastante. Redes sociais amplificam essa angústia ao exporem vidas idealizadas, criando um ciclo de comparação e infelicidade.
Estudo da University College London (2006) concluiu que a felicidade está mais relacionada a resultados que superam expectativas do que aos resultados absolutos. Por exemplo:
Em “The Paradox of Choice”, Barry Schwartz demonstra que muitas opções e expectativas elevadas geram paralisia decisória, arrependimento e redução da satisfação. Ele recomenda simplificar escolhas e ajustar expectativas à realidade para maior bem-estar.
Relacionamentos. Expectativas irreais sobre parceiros são causas frequentes de conflitos. O amor maduro reconhece diferenças e limitações, substituindo exigências por acolhimento.
Carreira. Expectativas desproporcionais em relação a ascensão rápida ou reconhecimento imediato geram frustração crônica, desmotivação e burnout.
Vida espiritual. Quem espera que Deus atenda a todos os pedidos exatamente como quer tende a perder a fé quando os resultados não vêm. A verdadeira fé inclui confiança, paciência e gratidão pelo presente.
Sociedade de consumo. Publicidade cria expectativas irreais de sucesso financeiro, beleza e estilo de vida, gerando ansiedade, dívidas e baixa autoestima quando a realidade não corresponde ao ideal.
Destacamos a seguir fatores relevantes para lidar com as expectativas na vida pessoal e profissional, que contribuem para uma vida de paz e tranquilidade. São eles:
O filósofo Epicuro, em sua busca pela felicidade através da moderação, ensinava que a chave não está em satisfazer todos os desejos, mas em reduzir nossos desejos ao que é realmente necessário. Ajustar expectativas à realidade significa substituir idealizações fantasiosas por perspectivas fundamentadas em dados, evidências e experiência.
Por exemplo, no ambiente profissional, em vez de esperar uma promoção em três meses após assumir um novo cargo, analise a média de tempo para promoções na sua empresa, o feedback recebido e o mercado. Esse ajuste reduz a frustração e aumenta a paz interior, pois cria alinhamento entre desejo e possibilidade real.
No campo pessoal, ajustar expectativas significa compreender que nem todos os amigos ou familiares terão a capacidade de oferecer apoio emocional pleno sempre. Assim, aprendemos a não exigir do outro aquilo que só Deus ou um propósito maior podem preencher.
Martin Seligman, fundador da Psicologia Positiva, demonstrou em suas pesquisas que pessoas que escrevem três coisas pelas quais são gratas todos os dias apresentam aumento significativo em bem-estar subjetivo, redução de sintomas depressivos e maior satisfação com a vida.
A gratidão desloca o foco mental daquilo que falta para aquilo que já existe e é valioso. Ao agradecer diariamente por coisas simples — como saúde, alimento, um amigo próximo ou a oportunidade de aprender algo novo — criamos neuroassociações positivas que reconfiguram nossos padrões emocionais, substituindo a ansiedade gerada por expectativas irreais por paz e contentamento.
No contexto espiritual, gratidão é um ato de reconhecimento de Deus como fonte de tudo, reforçando humildade e confiança.
O apóstolo Paulo, em Filipenses 4:11, afirma:
“Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância.”
Ele revela que o contentamento não é um dom instantâneo, mas um aprendizado espiritual. Essa adaptação inclui aceitar o que não pode ser mudado e confiar que, mesmo em dificuldades, há propósito.
Na prática, desenvolver contentamento espiritual envolve:
Esse contentamento liberta do peso de expectativas sobre como as coisas “deveriam” ser e abre espaço para ver como elas “são” como parte do plano maior de Deus.
Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, defendeu que a felicidade (eudaimonia) está na prática virtuosa — ou seja, na atividade da alma segundo a razão. Ele argumentava que a realização está no próprio processo de viver com virtude, coragem, generosidade, justiça e temperança.
Na vida prática, valorizar o processo significa:
Essa mudança de foco reduz a ansiedade por resultados imediatos e cria uma vida de significado contínuo.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente de campos de concentração nazistas, escreveu em Em Busca de Sentido que o maior desejo humano não é o prazer (como Freud acreditava), nem o poder (como Nietzsche ensinava), mas um sentido maior para viver.
Frankl observou que, mesmo em condições extremas, aqueles que encontravam propósito — seja um filho para criar, um projeto a concluir ou a própria fé — conseguiam suportar sofrimentos impensáveis. Na prática, buscar sentido significa:
Substituir o foco em prazeres imediatos por sentido maior cria satisfação profunda e duradoura.
Vivemos em uma cultura que valoriza meritocracia absoluta, ensinando que “você é aquilo que conquista”. No entanto, o Evangelho ensina graça, como escreveu Paulo:
“Pois vocês são salvos pela graça, mediante a fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)
Aplicado à vida prática, o conceito de graça ensina que nem tudo está sob nosso controle e que nossa identidade e valor não dependem de resultados ou desempenho, mas de quem somos em Deus.
Quando internalizamos a graça:
Essa consciência liberta do peso de expectativas opressoras e cria espaço para uma vida de gratidão, paz e propósito verdadeiro.
A frase “Altas expectativas são inimigas da felicidade” não é um convite ao conformismo, mas à sabedoria realista, humildade e gratidão. Sonhos são essenciais, mas precisam caminhar ao lado de aceitação, propósito e confiança em Deus. Como disse Jesus:
“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.” (Mateus 6:34)
Cultivar o presente, sem abandonar a esperança, mas sem aprisionar-se a ela, é a arte de viver feliz. Entre expectativas que frustram e realidades que nos surpreendem, encontrar o equilíbrio é viver com sabedoria, simplicidade e contentamento genuíno.
Reflexão Final:
Quais expectativas têm roubado sua paz hoje? E se você as substituísse por confiança, gratidão e propósito, como isso transformaria seu modo de viver, trabalhar e amar?
Imagine o olhar de Jesus. Um olhar que atravessa aparências e penetra o coração. Agora imagine esse olhar carregado de dor, não por causa dos ímpios declarados, mas por causa dos religiosos, dos que deveriam conhecer o coração do Pai, mas vivem distantes dele. Quando dizemos que “Jesus não está gostando disso”, estamos apontando para aquilo que mais provoca Sua indignação: a incoerência entre fé professada e vida praticada.
Neste artigo, exploramos os momentos nas Escrituras em que Jesus expressa Sua insatisfação, tristeza e até ira diante de atitudes humanas que ferem o espírito do Evangelho. A partir do Sermão do Monte e de outras passagens cruciais, veremos o que desagrada profundamente ao Filho de Deus — e como podemos viver de modo a agradá-lo de verdade.
No Sermão do Monte (Mateus 5 a 7), Jesus confronta diretamente as práticas religiosas dos fariseus. Ele deixa claro que justiça externa sem transformação interna não é suficiente:
“Pois eu digo que, se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e à dos mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.” (Mateus 5:20)
Jesus não está gostando da religião sem essência. Ele critica o jejum exibicionista (Mateus 6:16), a oração mecânica (Mateus 6:5) e a esmola dada para autopromoção (Mateus 6:2). Sua mensagem é clara: Deus não se impressiona com atitudes exteriores vazias.
Conexão com a Psicologia: A psicologia moderna reconhece o impacto destrutivo da dissonância cognitiva — quando nossas ações contradizem nossas crenças. Jesus, como Mestre da integridade, denuncia essa hipocrisia porque sabe o quanto ela destrói tanto o indivíduo quanto a comunidade.
Um dos episódios mais reveladores é quando Jesus afirma:
“Aprendam o que significa isto: Desejo misericórdia, não sacrifícios.” (Mateus 9:13)
Jesus está citando Oséias 6:6, e mais uma vez deixa claro: Deus não está interessado em rituais vazios. Ele quer corações compassivos. Quando os fariseus acusam Jesus por comer com pecadores, Ele responde com essa frase cortante — mostrando que o coração de Deus se inclina para os humildes e quebrantados, não para os presunçosos.
Conexão sociológica: A sociedade frequentemente marginaliza os "pecadores" e favorece os "justos" aos olhos humanos. Jesus subverte essa lógica ao acolher os marginalizados e denunciar os que usam a religião para excluir.
“Minha casa será chamada casa de oração; mas vocês estão fazendo dela um covil de ladrões!” (Mateus 21:13)
Aqui, Jesus não apenas se entristece — Ele se ira. Sua ação no templo é profética: Ele denuncia a corrupção espiritual que transforma a fé em comércio. Jesus não está gostando disso. E ainda hoje, quando igrejas priorizam lucro, manipulação e poder sobre o cuidado com o próximo, essa mesma indignação ecoa.
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! [...] Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não o quiseste!” (Mateus 23:37)
Neste lamento, Jesus revela um coração ferido. Ele não se alegra com o juízo; antes, sofre pelo povo que insiste em resistir ao amor de Deus. Sua tristeza não é por causa do pecado em si, mas pela recusa em receber a graça que liberta.
Jesus não está gostando...
O que Ele deseja?
A frase “Jesus não está gostando disso…” não deve nos causar medo, mas reflexão. Jesus, como Deus encarnado, revela o que agrada e o que entristece o coração do Pai. Sua insatisfação não é arbitrária, mas fruto de amor. Ele anseia por um povo sincero, compassivo e justo — que viva a fé de forma encarnada.
O chamado do Evangelho é claro: "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos." (João 14:15). Viver de modo que agrada Jesus é possível — mas exige arrependimento, entrega e transformação contínua.
Em que áreas da sua vida Jesus talvez esteja dizendo: “Eu não estou gostando disso”?
E o que você pode fazer, hoje, para realinhar seu coração ao d’Ele?
Se desejar, posso transformar este artigo em um esboço de sermão ou em material devocional para grupos pequenos. Deseja isso?
“A verdade é como o fogo. Aquece, mas também queima. Não pode ser imposta, apenas oferecida.”
Ao longo da história, a verdade sempre se manifestou como um elemento paradoxal — fonte de luz e calor, mas também de desconforto e destruição. Assim como o fogo, a verdade revela, aquece e guia. Mas, em igual medida, ela confronta, incendeia ilusões e destrói enganos. O tema que analisamos neste artigo é de uma profundidade existencial: a verdade não pode ser imposta; ela precisa ser oferecida — como uma tocha estendida em amor, jamais como uma fogueira forçada.
Na teologia bíblica, a verdade é mais do que um conceito; é uma Pessoa. Jesus afirma em João 14:6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” Aqui, a verdade se encarna e caminha entre os homens, não como uma imposição, mas como convite amoroso à redenção. No Sermão do Monte, Ele diz: “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mateus 5:8). A pureza de coração é a disposição de receber a verdade como ela é — sem máscaras, sem resistências.
O filósofo Søren Kierkegaard, em seu estilo existencial, advertia: “A verdade precisa ser vivida, não ensinada como doutrina.” Para ele, a verdade é subjetiva no sentido de que ela só tem efeito quando se torna parte da vida de alguém — quando é recebida, não imposta.
A metáfora do fogo aparece com frequência nas Escrituras. João Batista anuncia sobre Jesus: “Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mateus 3:11). Esse fogo representa tanto o aquecimento da alma pela presença de Deus quanto a purificação dolorosa das impurezas do coração humano.
No Antigo Testamento, vemos esse símbolo desde Gênesis, onde Deus separa luz e trevas com Sua palavra (Gênesis 1:3-4). Luz que aquece e revela, mas que também exige separação, discernimento, julgamento.
Na psicologia profunda, Carl Jung fala sobre o processo de individuação como uma jornada pela “sombra” — onde o indivíduo deve enfrentar verdades duras sobre si mesmo. Esse processo é como passar pelo fogo: “Aquilo que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino.”
O aspecto acolhedor da verdade está presente quando ela cura, consola e orienta. Jesus afirma: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). No Sermão do Monte, as bem-aventuranças proclamam conforto aos que sofrem e buscam justiça: “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados... os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos” (Mateus 5:4,6).
Na sociologia, autores como Paulo Freire alertaram que a libertação do oprimido se dá por meio da conscientização — ou seja, pela revelação da verdade histórica e existencial em que se vive. Essa verdade, quando aceita, gera dignidade e transformação. Mas nunca pode ser imposta; caso contrário, torna-se violência epistêmica.
A mesma verdade que consola, também confronta. No Evangelho, Jesus não hesita em dizer: “Vocês ouviram o que foi dito... mas eu lhes digo...” (Mateus 5:21-22) — subvertendo as leis humanas com padrões mais profundos de justiça e intenção. É o fogo que queima: que revela motivações, que exige arrependimento.
Nietzsche dizia: “Não há fatos, apenas interpretações”. Embora controverso, o pensamento dele denuncia o desconforto humano diante de verdades absolutas. Elas são vistas como agressivas, intolerantes. Daí vem o impulso de rejeitá-las ou relativizá-las — uma tentativa de escapar do fogo.
Mas a Escritura é clara: “Toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3:10). A verdade julga — não no sentido punitivo, mas como lâmina que separa o que é real do que é ilusão.
A história está cheia de exemplos de “verdades” impostas à força — das cruzadas religiosas à propaganda ideológica. Sempre que a verdade é usada como instrumento de coerção, ela deixa de ser verdade e torna-se instrumento de poder. Michel Foucault, sociólogo francês, analisa o discurso da verdade como construção de poder: “Quem define o que é verdade detém o controle das instituições.”
Por isso, a verdade deve ser proposta, jamais imposta. Paulo, em sua carta aos Gálatas, escreve: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gálatas 5:1). O amor é o solo fértil onde a verdade pode florescer.
Jesus não forçou ninguém a segui-Lo. A cada encontro — com o jovem rico, com Nicodemos, com a mulher samaritana — Ele apresentou a verdade e deixou que a pessoa decidisse. A pedagogia de Cristo é a da oferta: Ele acende a chama, mas respeita o livre-arbítrio.
Na filosofia oriental, especialmente no Taoísmo, o sábio não empurra o rio — ele aponta o caminho e confia no fluxo. Lao Tsé escreveu: “A verdade não precisa de defensores; ela precisa de praticantes.”
Oferecer a verdade é como carregar uma tocha acesa: pode aquecer o coração dos que buscam luz, mas também queimar as mãos dos que ainda não estão prontos. É preciso sabedoria, paciência e amor. Como disse o apóstolo Pedro: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir razão da esperança que há em vocês, mas façam isso com mansidão e respeito” (1 Pedro 3:15).
Portanto, que cada um de nós aprenda a ser portador de uma verdade que ilumina, transforma e liberta — sem jamais se transformar em chama de violência ou imposição.
Se a verdade deve ser oferecida com amor e não imposta com poder, como você tem compartilhado aquilo em que acredita com as pessoas ao seu redor?
Vivemos em uma era de avanços científicos sem precedentes. A medicina prolonga vidas, a tecnologia conecta continentes, e a física revela os segredos do universo. No entanto, mesmo em meio a tanto progresso, permanece uma inquietação profunda: o que fazer com aquilo que não pode ser mensurado? A famosa expressão “A ciência teme o que não pode medir” nos convida a refletir sobre os limites do método científico e a relação da humanidade com o imensurável — o espiritual, o subjetivo, o transcendente. Neste artigo, exploraremos o tema à luz da Bíblia, da filosofia, da psicologia e das ciências sociais.
Desde o Iluminismo, o conhecimento científico foi pautado pela objetividade, pela repetição de resultados e pela quantificação. Francis Bacon, um dos pais da ciência moderna, afirmava: “Conhecimento é poder”, mas esse poder deveria ser obtido pela experimentação e pela comprovação empírica. Com o tempo, isso se desdobrou numa postura reducionista: tudo o que não pode ser medido seria, no mínimo, irrelevante — ou, no máximo, inexistente.
O filósofo contemporâneo Edgar Morin critica essa postura:
“O paradigma da ciência clássica ocidental rejeitou o complexo, o incerto e o não mensurável em nome da ordem, da certeza e da quantificação.”
A consequência dessa visão foi uma negligência sistemática do invisível: a espiritualidade, os afetos, a consciência, a intuição e a alma.
A Bíblia é categórica ao afirmar que há uma realidade para além do que os olhos veem. O apóstolo Paulo escreve:
“Assim fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.”
— 2 Coríntios 4:18 (NVI)
Essa dimensão invisível não é meramente simbólica. Para muitos filósofos e pensadores, ela é a essência da realidade. Blaise Pascal, matemático e teólogo, dizia:
“O coração tem razões que a própria razão desconhece.”
Ou seja, a vida humana é feita de elementos que escapam aos instrumentos científicos, mas que possuem uma força determinante sobre nossos pensamentos, escolhas e valores.
A psicologia moderna, especialmente com Carl Jung, reconhece que os fenômenos internos — emoções, arquétipos, memórias inconscientes — moldam profundamente o comportamento humano. Esses aspectos não são mensuráveis em si, mas são reais em seus efeitos. Jung afirmava:
“A ciência moderna ainda não aprendeu a lidar com o que é essencialmente subjetivo, mas isso não o torna menos real.”
Sigmund Freud também alertou para os limites do racionalismo. Ainda que buscasse uma ciência da mente, reconhecia que o inconsciente é um território escuro e, muitas vezes, incontrolável.
Logo, mesmo nas ciências humanas, onde o subjetivo é inevitável, a tendência científica ainda luta para enquadrar o imensurável em moldes rígidos.
Religião e ciência frequentemente caminham em tensão. A espiritualidade, no entanto, não pretende competir com a ciência — ela opera em outro domínio: o da fé, da revelação, do mistério. Hebreus 11:1 define a fé como:
“A certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.”
A fé é uma forma de conhecimento baseada na confiança e na experiência pessoal com o divino. Ela não exige evidências no molde científico, mas isso não significa que seja inferior — apenas diferente.
O sociólogo Peter Berger, em “O Dossel Sagrado”, mostra que o ser humano tem uma necessidade inata de sentido e transcendência. O sagrado é uma realidade socialmente construída, mas com raízes na percepção existencial de que há algo além do tangível.
Se a ciência teme o que não pode medir, talvez esse temor seja uma resposta natural à insegurança diante do mistério. O físico teórico Carlo Rovelli reconhece que:
“A ciência não é a busca da certeza, mas do entendimento. A incerteza é uma condição natural.”
No entanto, muitos cientistas resistem à ideia de que certos fenômenos — como o amor, a consciência ou Deus — escapam à sua compreensão. Essa resistência, às vezes, revela uma tentativa de controle sobre a realidade, como se o que não pode ser explicado ameaçasse o projeto moderno de domínio da natureza.
Grandes nomes da ciência eram também homens de fé. Isaac Newton, Johannes Kepler, Blaise Pascal, Gregor Mendel e muitos outros viam a ciência como uma forma de decifrar os códigos do Criador. Kepler chegou a afirmar:
“Ao estudar a criação, estou pensando os pensamentos de Deus depois Dele.”
A filosofia contemporânea tem tentado restabelecer esse diálogo. Paul Tillich, teólogo e filósofo, dizia que a fé é a “preocupação última” do ser humano — algo que a ciência não consegue substituir. Já o neurocientista Mario Beauregard demonstrou, em suas pesquisas sobre experiências místicas, que estados espirituais são reais, embora não totalmente explicáveis.
A frase “a ciência teme o que não pode medir” não é um ataque à ciência, mas um convite à humildade. O universo é maior do que nossa capacidade de mensuração. A vida, mais complexa do que qualquer fórmula. E o ser humano, mais profundo do que qualquer escaneamento cerebral pode revelar.
Como disse Albert Einstein:
“O mais belo que podemos experimentar é o mistério. Ele é a fonte de toda arte verdadeira e de toda ciência. Aquele que não conhece essa emoção, que não pode mais se maravilhar, está como morto.”
Reconhecer que há realidades que não podem ser medidas — e nem por isso deixam de ser verdadeiras — é um ato de sabedoria. É nesse terreno que a ciência encontra seus próprios limites e a fé oferece as suas pontes.
Vivemos em uma era marcada por discursos inflamados em defesa da verdade. Palanques, púlpitos, redes sociais e até mesmo tribunais estão repletos de vozes que reivindicam a guarda da verdade. No entanto, como bem expressa a frase que inspira este artigo — “A verdade não precisa de defensores; ela precisa de praticantes” —, o valor supremo da verdade não está na eloquência dos que a proclamam, mas na integridade dos que a vivem.
Neste artigo, analisaremos essa máxima à luz da Bíblia, da filosofia, da psicologia moral e da sociologia contemporânea, para demonstrar que a verdade é um caminho a ser trilhado, não um troféu a ser protegido. Ela se sustenta não pela força das palavras, mas pelo peso das atitudes.
A Bíblia trata a verdade não apenas como um conceito abstrato, mas como uma realidade encarnada. Jesus afirma em João 14:6:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim."
Aqui, a verdade é relacional, encarnada, prática. Cristo não diz “eu falo a verdade”, mas “eu sou” a verdade. A implicação é clara: viver a verdade é viver como Cristo viveu.
O apóstolo Tiago reforça essa ideia ao dizer:
"Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos." (Tiago 1:22)
Defender a verdade sem praticá-la é uma forma de autoengano. O farisaísmo que Jesus combate nos Evangelhos (cf. Mateus 23) é o exemplo por excelência de defensores da verdade que não a viviam.
Filosoficamente, a verdade tem sido alvo de intensos debates desde a Antiguidade. Sócrates, ao ser acusado injustamente, afirmou:
“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.”
Para ele, a busca pela verdade era um exercício de vida, e não uma bandeira ideológica. O filósofo francês Michel Foucault, séculos depois, introduziu o conceito de “parresia” — o ato de dizer a verdade, mesmo sob risco pessoal. No entanto, Foucault ressalta que parresia não é apenas falar a verdade, mas viver de acordo com o que se crê verdadeiro, mesmo diante da oposição.
Nietzsche, por sua vez, denunciou a hipocrisia de muitos que se dizem defensores da verdade:
“Não são as mentiras que me incomodam, mas o fato de que, depois de ouvir tantas, não consigo mais acreditar em nada.”
Ele reconhecia que a verdade proclamada sem autenticidade prática descredita até mesmo as palavras mais belas.
Carl Rogers, psicólogo humanista, define a autenticidade como o alinhamento entre o que a pessoa sente, pensa e faz. Essa congruência é essencial para o bem-estar emocional e relacional. Defender a verdade sem vivê-la, para Rogers, gera dissonância cognitiva — um estado de tensão interna quando nossas ações não correspondem às nossas crenças.
Leon Festinger, criador da teoria da dissonância cognitiva, mostra que o ser humano tende a racionalizar suas incoerências para preservar a autoestima. Assim, muitos defensores da verdade, quando confrontados com seus próprios desvios, preferem justificar-se a transformar-se.
A psicologia moral contemporânea, como a de Jonathan Haidt, ressalta que a moralidade está enraizada em intuições, e não apenas em razões. Ou seja, nossa prática moral convence mais do que nossos argumentos morais. A verdade, quando vivida, tem maior poder de transformação do que quando apenas debatida.
A socióloga brasileira Maria da Glória Gohn, ao estudar movimentos sociais, destaca que transformações reais não ocorrem apenas por discursos ideológicos, mas por ações coerentes com os princípios proclamados. Em outras palavras, verdade sem prática não muda a sociedade.
Pierre Bourdieu, ao falar de “habitus” — os comportamentos e disposições que adquirimos ao longo da vida — mostra que a cultura é transmitida e transformada mais por exemplo do que por ensino formal. Assim, praticar a verdade é um ato de impacto coletivo, pois molda consciências mais do que qualquer palestra sobre ética.
Nas redes sociais, é comum ver “guardiões da verdade” travando batalhas sem fim em nome da moral, da fé ou da justiça. Mas como alerta o teólogo Timothy Keller:
“A verdade sem amor é dura; o amor sem verdade é vazio. Mas quando verdade e amor se unem, há poder para curar.”
A ausência de prática transforma a verdade em instrumento de dominação, não de libertação. Jesus advertiu:
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (João 8:32)
Mas esse conhecimento é mais do que intelectual — é vivencial, relacional e transformador.
Viver a verdade requer coragem, porque implica confrontar nossas próprias incoerências antes de apontar as dos outros. Como diz o rabino Abraham Heschel:
“O que nós fazemos, nos tornamos. O que nós negamos, nos domina.”
Portanto, o maior ato de fidelidade à verdade não é defendê-la em público, mas obedecê-la em silêncio. Isso vale para todas as esferas: família, trabalho, igreja, política.
A verdade que muda o mundo começa com o homem que muda a si mesmo.
A verdade não precisa de guardiões armados com palavras afiadas, mas de homens e mulheres que a calcem como sandálias e caminhem com ela. Como disse Santo Agostinho:
“A verdade é como um leão. Você não precisa defendê-la. Solte-a. Ela se defenderá sozinha.”
É tempo de menos discursos e mais atitudes. Menos proclamações e mais coerência. Menos defensores e mais praticantes.
A verdade, em sua essência, não é uma ideia a ser debatida, mas um estilo de vida a ser encarnado. Ela não precisa ser protegida por retórica, mas sustentada por caráter. Como ensinou Jesus, “pelos frutos os conhecereis” (Mateus 7:16). Defender a verdade com palavras é fácil; praticá-la, com integridade, é o desafio que distingue os sábios dos hipócritas — e os transformadores dos meramente falantes.
A vida é um campo contínuo de batalhas invisíveis e decisões silenciosas. Em cada momento, o ser humano se depara com o desafio de permanecer onde está ou avançar rumo àquilo que deseja. E, nesse ponto crucial, reside uma verdade inescapável: a diferença entre perder e vencer está na ação.
A simples intenção, a vontade isolada ou o pensamento positivo, embora relevantes, não são suficientes para transformar sonhos em conquistas. É a ação concreta, o movimento no tempo e no espaço, que edifica as vitórias e redefine os resultados.
Neste artigo, vamos explorar essa realidade com apoio nas Escrituras Sagradas, em pensadores da filosofia clássica e moderna, na psicologia do comportamento e em estudos sociológicos, para compreender a força transformadora da ação.
A Bíblia, fonte inesgotável de sabedoria prática e espiritual, valoriza profundamente a ação. Tiago, o apóstolo, escreve de maneira contundente:
"Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de ações, está morta." (Tiago 2:17, NVI)
Não basta crer, esperar ou desejar. Para Tiago, a fé viva exige obras, isto é, ações práticas e visíveis. A vida cristã, portanto, é uma vida de movimento, de aplicação diária daquilo que se crê.
Outro exemplo marcante é o chamado de Deus a Josué:
"Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar." (Josué 1:9, NVI)
Deus prometeu a presença divina, mas a conquista da Terra Prometida dependeria da coragem e da ação de Josué e do povo. Sem ação, a promessa não se cumpriria.
Na filosofia clássica, Aristóteles enfatiza que a realização humana está na prática da virtude:
"Somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito." (Aristóteles)
Aqui, Aristóteles coloca a ação — e mais ainda, a repetição da ação — como elemento constitutivo do ser humano virtuoso. Não se trata apenas de pensar o bem, mas de praticá-lo consistentemente.
Jean-Paul Sartre, no existencialismo moderno, também reforça essa ideia:
"O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo."
Para Sartre, a existência precede a essência, e o ser humano se constrói por meio das escolhas e das ações que realiza, reafirmando que ficar inerte é uma forma de abdicar da própria existência autêntica.
A psicologia comportamental, especialmente com B. F. Skinner, demonstra que o comportamento molda a personalidade e o destino das pessoas. Em sua teoria do condicionamento operante, Skinner afirma que:
"As ações são reforçadas ou extintas pelo ambiente."
Assim, quem age e experimenta resultados positivos tende a reforçar comportamentos produtivos, enquanto a inação muitas vezes gera sentimentos de impotência e estagnação.
Além disso, Martin Seligman, fundador da Psicologia Positiva, destaca em seus estudos que a ação proativa é um dos principais antídotos contra a depressão. Em sua pesquisa sobre "desamparo aprendido", Seligman mostra que indivíduos que assumem o controle de pequenas ações em suas vidas desenvolvem mais resiliência e esperança.
Portanto, agir não apenas aproxima da vitória externa, mas fortalece a saúde mental interna.
Na sociologia, Max Weber, em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", argumenta que o impulso para agir, trabalhar e produzir é uma das raízes do desenvolvimento das sociedades modernas.
Weber explica que:
"A conduta orientada para um fim racional é a característica do agir moderno."
Ou seja, as grandes transformações sociais e econômicas não aconteceram apenas por ideias ou crenças, mas principalmente por ações sistemáticas, disciplinadas e persistentes.
Esse raciocínio também pode ser aplicado ao nível individual: não é o desejo de mudança que muda uma vida, mas a decisão prática de agir com perseverança.
Muitos projetos fracassam antes mesmo de começarem, não por falta de capacidade ou recursos, mas por ausência de ação inicial.
Quantas ideias geniais ficam apenas no campo da intenção? Quantos talentos promissores se perdem por falta de disciplina e execução?
Consideremos dois exemplos práticos:
"Eu não falhei mil vezes. Eu apenas descobri mil maneiras que não funcionam."
Cada tentativa foi uma ação consciente, aproximando-o de sua vitória.
Entender a diferença entre vencer e perder passa também por reconhecer o poder paralisante da procrastinação.
Joseph Ferrari, psicólogo e pesquisador da Universidade DePaul, afirma em seus estudos que:
"Procrastinar não é uma questão de má gestão do tempo, mas de má gestão das emoções."
O medo do fracasso, a ansiedade diante do desconhecido e a busca por perfeição muitas vezes impedem a ação. Assim, a coragem de agir, mesmo sem garantias, é fundamental para vencer.
A diferença entre perder e vencer nunca esteve apenas na sorte ou no talento, mas na disposição firme de agir.
Como escreveu Paulo em sua carta aos Coríntios:
"Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil." (1 Coríntios 15:58, NVI)
A ação é a ponte que liga a intenção ao resultado, o sonho à realidade, a fé à vitória.
Quem age, ainda que tropece, sempre estará mais próximo da vitória do que aquele que apenas espera.
Assim, agir é crer, é existir, é transformar. E mais ainda: é honrar o dom da vida que Deus nos concedeu, sabendo que Ele age com aqueles que têm coragem de mover os pés pela fé e pela razão.