A pergunta sobre “o que as coisas são” e “para que elas servem” tem intrigado a humanidade desde os primórdios. Essa questão ultrapassa os limites da filosofia, tocando a psicologia, a sociologia e até a teologia. Afinal, compreender a essência e o propósito das coisas nos ajuda a entender o mundo e a nós mesmos.

A Essência das Coisas: O Que Elas São?

Na filosofia, a busca pela essência das coisas remonta a Aristóteles, que afirmou em sua Metafísica que tudo tem uma substância essencial que define o que realmente é. Ele introduziu o conceito de causa formal (o que algo é em essência) e causa final (o propósito de algo), unindo a ontologia ao teleológico. Por exemplo, uma cadeira é algo feito para sustentar alguém sentado, mas sua essência também envolve os materiais que a compõem e a função que desempenha no espaço onde está inserida.

Na psicologia, a percepção das coisas está profundamente ligada à forma como o ser humano atribui significado. Jean Piaget sugeriu que as pessoas constroem o significado do mundo por meio da interação com objetos e ambientes. Isso implica que as coisas não têm significado intrínseco, mas adquirem valor e propósito a partir da experiência humana.

Bíblicamente, a essência das coisas é vista como resultado da criação divina. Em Gênesis 1:31, Deus observa tudo o que criou e declara que “era muito bom”. Isso implica que as coisas criadas possuem uma natureza boa e intencional. A essência das coisas, portanto, deriva de sua origem divina e de sua harmonia com o propósito maior de Deus.

O Propósito: Para Que as Coisas Servem?

O conceito de utilidade das coisas é inseparável de sua essência. Para Immanuel Kant, as coisas têm valor instrumental quando servem como meio para alcançar um fim, mas o ser humano é um fim em si mesmo. Esse pensamento ecoa a ideia de que o propósito das coisas é, em última análise, servir ao bem-estar e à dignidade humana.

No entanto, o filósofo Martin Heidegger amplia essa visão em Ser e Tempo. Ele argumenta que o “ser” das coisas está intrinsecamente ligado à sua utilidade no contexto da vida humana. Uma ferramenta, por exemplo, não é apenas um objeto inerte, mas algo que “é” por meio de seu uso prático e relacional.

A Bíblia também destaca o propósito das coisas em relação à humanidade. O Salmo 19:1 declara: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos.” Aqui, o propósito da criação é revelar a glória de Deus e inspirar a contemplação humana. Além disso, em Colossenses 1:16, lemos que “todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele”, reforçando a ideia de que o propósito final das coisas está em glorificar o Criador.

A Relação Humana com as Coisas

A relação humana com os objetos vai além do uso prático; ela envolve simbolismo e conexão emocional. O sociólogo Émile Durkheim destacou que certos objetos adquirem caráter sagrado em contextos sociais, como na religião, onde são dotados de significados que transcendem sua materialidade.

Já o psicólogo Viktor Frankl, em sua obra Em Busca de Sentido, enfatizou que o ser humano não encontra propósito apenas no que usa ou possui, mas na relação significativa com o mundo. Para ele, as coisas são importantes na medida em que ajudam a pessoa a encontrar sentido em sua vida.

A perspectiva bíblica reforça esse ponto ao alertar contra a idolatria, ou seja, dar às coisas um valor maior do que elas possuem. Em Mateus 6:19-21, Jesus ensina: “Não acumulem para vocês tesouros na terra […] Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.” Assim, as coisas devem ser vistas como instrumentos para glorificar a Deus e abençoar o próximo, não como fins em si mesmas.

A Criação e a Sustentabilidade das Coisas

No mundo contemporâneo, a questão do “para que servem as coisas” se conecta à sustentabilidade. A exploração descontrolada dos recursos naturais demonstra o perigo de uma visão utilitarista sem limites éticos. O Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’, chama a atenção para a “cultura do descarte”, onde as coisas – e até as pessoas – perdem seu valor intrínseco quando consideradas inúteis.

A Bíblia também nos oferece uma visão de responsabilidade ecológica. Em Gênesis 2:15, Deus coloca o homem no jardim do Éden para “cultivá-lo e guardá-lo”. Isso sugere que as coisas criadas têm um propósito que inclui sua preservação e cuidado, refletindo uma visão de mordomia responsável.

Conclusão: Entre o Ser e o Servir

O que as coisas são e para que elas servem são perguntas que nos levam a refletir sobre nossa própria existência. Como disse o filósofo contemporâneo Zygmunt Bauman, em sua teoria da modernidade líquida, vivemos em um mundo onde o valor das coisas é frequentemente efêmero, mas a busca por significado permanece constante.

A Bíblia nos ensina que tudo o que existe tem um propósito maior: glorificar a Deus e beneficiar a criação (Romanos 11:36). A filosofia nos desafia a investigar a essência das coisas, enquanto a psicologia e a sociologia nos mostram como atribuímos significado a elas. Em última análise, as coisas não são apenas instrumentos; elas são reflexos do cuidado criador e da criatividade humana. O desafio está em usá-las para construir um mundo mais justo, sustentável e significativo.