A crença de que os sentimentos podem moldar a realidade é sedutora e amplamente difundida na sociedade contemporânea. Essa ideia permeia desde discursos motivacionais até movimentos que incentivam a criação de uma realidade pessoal a partir de emoções ou pensamentos positivos. Entretanto, é essencial questionar a base dessa premissa. Afinal, os sentimentos, por mais intensos e legítimos que sejam, não têm o poder de alterar fatos objetivos ou reescrever as leis do universo. Neste artigo, analisaremos a diferença entre a subjetividade das emoções e a objetividade da realidade, integrando reflexões de filósofos, psicólogos, sociólogos e a sabedoria bíblica.

A Ilusão do Sentimentalismo: O que Sentimos Não é o Que É

Os sentimentos são reações internas que refletem nossa percepção do mundo, mas não o mundo em si. William James, psicólogo e filósofo pragmatista, argumentava que “a verdade é aquilo que funciona”, enfatizando que ela deve ser independente das nossas emoções. Por exemplo, podemos sentir medo ao ouvir um trovão, mas o trovão não é uma ameaça direta; ele é apenas um fenômeno natural. Esse contraste entre experiência subjetiva e realidade objetiva ilustra que os sentimentos não criam a verdade, apenas a interpretam.

Na Bíblia, encontramos a mesma ideia em Jeremias 17:9 (NVI): “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável; quem é capaz de compreendê-lo?”. Aqui, somos advertidos sobre a falibilidade de nossas emoções e como confiar cegamente nelas pode nos afastar da realidade.

Sentimentos e Percepções: Construções Subjetivas

A psicologia moderna também confirma que os sentimentos são profundamente influenciados por fatores internos e externos, como experiências passadas, traumas e cultura. Carl Rogers, um dos pais da psicologia humanista, afirmava que “o que é mais pessoal é mais universal”, destacando que as emoções são reflexos da forma como interpretamos o mundo, mas não necessariamente representam a realidade. Um exemplo clássico é o fenômeno da “projeção”, em que atribuirmos a outras pessoas sentimentos ou intenções que, na verdade, pertencem a nós mesmos.

O apóstolo Paulo também apontou essa diferença em Romanos 12:2 (NVI): “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” A renovação da mente, ou seja, a busca por uma visão clara e alinhada com a verdade divina, nos ajuda a não confundir sentimentos com realidade.

A Verdade como Base da Realidade

A filosofia clássica, especialmente no pensamento de Aristóteles, coloca a verdade como algo objetivo e independente. Para Aristóteles, a verdade está na adequação entre o pensamento e a realidade: “Dizer que aquilo que é não é, ou que aquilo que não é é, é falso; mas dizer que aquilo que é é, e que aquilo que não é não é, é verdadeiro.” Essa definição simples e direta reflete a necessidade de reconhecer os fatos como eles são, independentemente de como nos sentimos em relação a eles.

Jesus Cristo reafirmou a centralidade da verdade em João 8:32 (NVI): “Então conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” Aqui, a liberdade não vem de seguir nossos sentimentos, mas de nos alinharmos com a realidade, que é fundamentada na verdade de Deus.

O Papel dos Sentimentos na Vida Humana

Embora os sentimentos não criem a realidade, eles desempenham um papel essencial na experiência humana. Sentimentos são indicadores, sinais internos que nos ajudam a navegar no mundo. Por exemplo, o medo pode nos proteger do perigo, e a alegria pode nos levar a valorizar momentos significativos. No entanto, como sinaliza Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, “entre o estímulo e a resposta há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. E nessa resposta reside nosso crescimento e liberdade.” Frankl sugere que, mesmo diante de emoções intensas, temos a capacidade de escolher como responder à realidade.

A Bíblia também reconhece a importância das emoções, mas com a orientação de que elas devem ser governadas pela razão e pela fé. Em Provérbios 4:23 (NVI) lemos: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” Guardar o coração implica não permitir que sentimentos descontrolados dominem nossas ações, mas submeter nossas emoções à verdade e ao discernimento.

Responsabilidade e Realidade: Um Chamado à Maturidade

O pensamento de que os sentimentos criam a realidade pode levar ao escapismo ou à negação da responsabilidade. Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista, afirmava que “estamos condenados a ser livres”, ou seja, a liberdade exige que assumamos a responsabilidade por nossas escolhas, independentemente de como nos sentimos. Esse reconhecimento de responsabilidade é vital para viver em harmonia com a verdade.

O apóstolo Paulo ecoa essa ideia em Efésios 4:15 (NVI): “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” Crescer implica amadurecer emocionalmente, aprendendo a distinguir entre o que sentimos e o que é real, e agindo de acordo com a verdade.

Conclusão: A Harmonia Entre Sentimento e Verdade

Embora os sentimentos sejam uma parte legítima e valiosa da experiência humana, eles não têm o poder de moldar a realidade. A maturidade espiritual, emocional e intelectual exige que aprendamos a viver em harmonia com a verdade, reconhecendo a objetividade dos fatos enquanto valorizamos nossas emoções como guias interiores, e não como criadores do mundo externo.

A Bíblia, a filosofia e a psicologia concordam que a verdade é o fundamento sobre o qual devemos construir nossas vidas. Somente ao reconhecer a diferença entre o que sentimos e o que é, podemos viver de maneira autêntica e responsável. Afinal, como ensina João 14:6 (NVI), Jesus é “o caminho, a verdade e a vida”, e é na verdade que encontramos propósito, liberdade e plenitude.